Justificação

Para tudo.
Para sermos iguais e diferentes.
Para o bem e para o mal.
Para a dor que sinto e o gozo que me dás (ou deste).

Porque sim e porque não.
Porque sou único e especial.
Porque sou fraco e denso.
Porque tenho um coração de ouro derretido.

Para nos encontrarmos e para aguentarmos a distância.
Para matar saudades.
Para o ciúme.
Para os grilhões que nos prendem.

Porque tenho uma bola verde no ombro.
Porque sou profundo e existencialista.
Porque sou vago e esquecido.
Porque não me farto de mim e do mundo.

Para mudar o mundo.
Para crer em melhor.
Para chorar a perda do que não tive.
Para poder ser maior.

Porque me amas, e isso é desculpa para tudo.

E pensar que os voos são outros, que os ventos me trouxeram para longe de ti. E cada vez mais longe. Sinto-o em todas as nervuras das asas, como sinto todas as correntes e sopros que o vento me dá. Ouço, quais segredos respirados ao ouvido, que a tua pele morena me escapa num bater de asas... E os teus longos cabelos, os teus lindos e maravilhosos olhos, me fogem para outro mundo, arrastados por correntes de água que julgas serem minhas e que eu controlo... Enganas-te ninfa. Os nossos mundos são arrastados para pólos diferentes. Eu quero o saber, o conhecimento, o poder de curar com as minhas mãos. Quero devolver sorrisos a crianças perdidas. Tu queres gritar ao mundo o teu descontentamento e o deles. Queres denúnciar e mudar...

Criança sonhadora... Vai-me custar perder-te... Mas ambos sabemos que é inevitável! E a dor da antecipação é tão!.. Tão imensa!.. Talvez maior que a da perda... Vais-te enganar mais uma vez...